quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

AS REVOLUÇÕES DEMOCRATICO BURGUESAS

Comecemos com as grandes revoluções democrático-burguesas do século XVIII e XIX. É a época em quea burguesia que é oprimida pelos estados feudais (na Europa) ou pelas metrópoles (nas colônias), utiliza amobilização popular revolucionária contra o feudalismo para impor o seu domínio político e adequar oEstado, suas instituições e suas leis ao seu já desenvolvido domínio econômico. Nessa 6poca, podemosdiferenciar dois tipos de revoluções: a revolução democrático-burguesa contra o estado feudal, a nobreza e
a igreja latifundiária, e a revolução democrático-burguesa em prol da independência nacional das colônias
com relação aos impérios metropolitanos.
A Revolução contra o Estado feudal
O modelo clássico deste primeiro tipo de revolução 6 a revolução francesa de 1789. A burguesia se apóia
na mobilização do povo, derruba o rei, expropria a nobreza e o clero latifundiário, instaura um novo
regime político assentado em instituições democráticas burguesas (a Convenção e a Comuna de Paris) e
modela em seu próprio benefício o estado, eliminando as diferenças de sangue e instaurando como
princípio básico de organização social a propriedade privada e capitalista.
Quem dirige todo esse processo, quando a revolução chega ao ponto culminante, é o partido jacobino. É o
partido da pequena burguesia radicalizada, que não pode fazer um estado à sua imagem e semelhança, isto
é, pequeno burguês, já que quem dominava a economia era a burguesia.
A classe trabalhadora era muito débil para constituir uma alternativa econômica, para impor uma
economia nacionalizada por ela, nem tampouco uma alternativa política.
Setores jacobinos fizeram-se burgueses vendendo provisões ao exército, debilitando assim a direção
pequeno-burguesa. Esta, por sua vez, foi revolucionária enquanto enfrentou a contra-revolução feudal,
mas foi reacionária ao aplicar a repressão sobre a sua esquerda plebéia, esta sim muito mais
revolucionária que os jacobinos. Os jacobinos foram derrotados pela burguesia, que instaurou um regime
contra-revolucionário, capitalista, ditatorial.
A contra-revolução burguesa massacrou o povo revolucionário para implantar um regime estáveL Este
novo regime 6 o bonapartismo. É um regime totalitário, onde um indivíduo, Napoleão Bonaparte, se
coloca acima das classes e setores, arbitrando entre eles, apoiando-se no aparelho estatal e
fundamentalmente no exército. Este regime, que é reacionário em relação à revolução, 6 progressista em
relação à sua época, na medida em que enfrenta a contra-revolução feudal, consolidando e expandindo o
regime burguês no resto da Europa.
A Revolução Antifeudal e de Independência Nacional
Antes da revolução francesa ocorreu, na América do Norte, o segundo tipo de revolução que assinalamos:
a democrático-burguesa e de independência nacional. Nos Estados Unidos, uma grande revolução derrota
o imperialismo colonialista inglês, capitalista, conquista a independência e instaura um regime
democrático-burguês, o primeiro que se constituiu plenamente na história da humanidade, mesmo com a
enorme contradição do escravismo. Em outras palavras, a revolução norte-americana liberta o país do
fardo colonial, instaura um regime de liberdades democráticas burguesas de uma amplitude até então
desconhecida.Mas não liberta os escravos.
Já essa revolução, embora dirigida e controlada pela burguesia norte-americana, apresenta elementos
anticapitalistas: o inimigo que enfrenta não é um império escravista ou feudal, e sim o da potência
capitalista mais poderosa da época - a Inglaterra. Porém não 6 uma revolução anticapitalista, mas uma
revolução burguesa para acabar com a opressão de outra burguesia e poder desenvolver plenamente o
capitalismo.
Similares à francesa são outras revoluções européias que se deram durante todo o século XIX, como a
alemã e a italiana para alcançar a unidade nacional. Similar ao norte-americano é o processo de
independência das colônias centro e sul-americanas, que enfrentam um imperialismo semicapitalista
como o espanhol ou decadente como o português.
O Bismarckismo
Ao longo do século XIX continuaram ocorrendo revoluções democrático-burguesas, como a alemã de
1848. Porém, a burguesia é cada vez menos revolucionária. Ela se atemoriza ante a mobilização popular e
tenta mudar o caráter da sociedade e do estado por vias cada vez mais reformistas, não se apoiando na
mobilização do povo e sim pactuando com as classes feudais essa transformação. Nasce assim, na
Alemanha, um novo regime: ode Bismarck. Esse regime, também como um árbitro individual, faz pactos
entre a burguesia alemã e os príncipes feudais, os "junkers". Faz concessões a um e a outro lado, porém
sempre dentro de uma linha de alcançar uma Alemanha unificada e capitalista. Não busca liquidar física e
politicamente os nobres, como fez a revolução francesa, e sim convertê-los em grandes capitalistas. Para
frear alguns ímpetos exagerados de setores burgueses, o bismarckismo faz concessões e pactos inclusive
com a classe operária e seus partidos, utilizando-os como contrapeso a esses ímpetos. Essa 6 uma
diferença fundamental em relação ao bonapartismo. Enquanto este 6 muito totalitário e não faz
concessões de nenhum tipo aos trabalhadores, o bismarckismo se baseia precisamente nas concessões à
direita e à esquerda para fazer urna transformação reformista da sociedade e do estado.
Cabe esclarecer, por último, que essa transição bismarckista ou reformista, de uma sociedade e um estado
feudais para uma sociedade e um estado capitalista, pode se dar porque tanto os nobres como a burguesia
são classes exploradoras. Um nobre pode se transformar cm burguês, perdendo alguns privilégios de
sangue, porém pode chegar a ser muito mais rico como burguês do que como nobre. Bismarck se
encarregou de convencê-los pacificamente disso, O reformismo não é viável, ao contrário, na passagem da
sociedade capitalista à socialista, porque esta significa a perda de todos os privilégios e de toda a fortuna
para a burguesia, a qual de nenhuma maneira pode aceitá-lo pacificamente.
A Época das Reformas e Reacções
A partir de 1880, abre-se uma época de auge impressionante da economia capitalista. É a época do
surgimento dos monopólios, do imperialismo e do capital financeiro. Esse grande desenvolvimento
enriquece a burguesia e também o conjunto da sociedade. Embora a burguesia não dó nada de presente ao
proletariado, este, através de duras lutas, arranca-lhe conquistas e melhorias consideráveis: a jornada de
oito horas, melhores salários, legalidade para os seus partidos e sindicatos, etc. O proletariado não se vê
diante do dilema de fazer a revolução socialista para não morrer de fome. A burguesia consegue evitar a
explosão de lutas revolucionárias, apaziguando os trabalhadores com essas melhorias e reformas.
A época das revoluções democrático-burguesas contra o feudalismo ficou para trás. Porém, ainda não se
abriu a das revoluções operárias contra o capitalismo. Há uma revolução precursora, anterior até a essa
época reformista, em 1871, quando se dá a primeira revolução operária: a Comuna de Paris, que começa
lutando contra a invasão alemã e termina lutando contra a burguesia, até ser esmagada com métodos
contra-revolucionários pela burguesia francesa.
É uma época em que já o ponto de referência é a luta do proletariado contra a burguesia. Mas essa luta
tem um caráter reformista. O proletariado luta por conquistas parciais e consegue reformas. A burguesia
outorga essas reformas, mas também, em muitas oportunidades, as ataca com métodos reacionários,
repressivos. Essas reações não são contra-revoluções: em geral, não se utiliza contra o movimento
operário métodos de guerra civil, nem se instauram regimes contra-revolucionários assentados nesses
métodos.
Há, nessa época, revoluções e contra-revoluções. Em 1905, na Rússia, explode uma revolução contra o
czar, que não triunfa. Em 1910 se dá a grande revolução mexicana, de tipo camponês, que impõe a
reforma agrária. Em princípios do século XX cai a dinastia chinesa.
Porém, estas revoluções são exceções dentro dessa época, em que predomina a reforma e a reação. São
revoluções que prenunciam a época que virá, a das revoluções proletárias, mas não mudam o caráter
reformista e reacionário dessa época.
Precisamente por esse caráter, durante toda essa época, os regimes burgueses não perdem seu caráter
democrático, que pode ser amplo ou restrito (como o bonapartismo francês). A única exceção entre as
grandes potências é a Rússia, onde existe um regime totalitário, o do czar que se sustenta na nobreza
latifundiária. Embora já combine importantes elementos de estado e regime capitalistas, o regime do czar
continua sendo a contra-revolução feudal.

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