domingo, 11 de abril de 2010

“Não importa que retrato.
Um qualquer: sério, sorrindo, de arma na mão, com Fidel ou sem Fidel, discursando nas Nações Unidas, ou morto, de tronco nu e olhos entreabertos, como se do outro lado da vida ainda quisesse acompanhar o rasto do mundo que teve de deixar, como se não se resignasse a ignorar para sempre os caminhos das infinitas crianças que estavam por nascer. Sobre cada uma destas imagens poder-se-ia discorrer profusamente, de um modo lírico ou de um modo dramático, com a objectividade prosaica do historiador ou simplesmente como quem se dispôs a falar do amigo que percebe ter perdido porque o não chegou a conhecer...

“Ao Portugal infeliz e amordaçado de Salazar e de Caetano chegou um dia o retrato clandestino de Ernesto Che Guevara, o mais célebre de todos, aquele feito com manchas fortes de neManolo Monereo Pérez gro e de vermelho, que se tornou em imagem universal dos sonhos revolucionários do mundo, promessa de vitórias a tal ponto férteis que nunca antes haveriam de murchar em rotinas e cepticismos, antes dariam lugar a outros muitos triunfos, o do bem sobre o mal, o do justo sobre o injusto, o da liberdade sobre a necessidade, emoldurado ou seguro à parede por meios precários, esse retrato assistiu a debates políticos apaixonados na terra portuguesa, exaltou argumentos, minorou desânimos, acalentou esperanças. Foi olhado como um Cristo que tivesse descido da cruz para descrucificar a humanidade, como um ser dotado de poderes absolutos que fosse capaz de extrair de uma pedra a água com que se matariam todas as sedes e transformar essa mesma água no vinho com que se beberia ao esplendor da vida. E tudo isto era certo porque o retrato de Che Guevara foi, aos olhos de milhões de pessoas, o retrato da dignidade suprema do ser humano

GUERRILHA EM CUBA

BANDEIRA DO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRO 26 DE JULHO QUE LIDERADO POR FIDEL CASTRO, ERNESTO GUEVARA, CAMILO CIENFUEGOS E VÁRIOS OUTROS BARBUDOS DERROTARAM O IMPERIALISMO AMERICANO LIBERTANDO O POVO CUBANO DE SECULOS DE DOMINAÇÃO.

sábado, 13 de março de 2010

GUERRILHA DO ARAGUAIA

A Guerra Popular Prolongada do Partido Comunista do Brasil (PC do B)

Em 1956, o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) traçou novos rumos para o movimento comunista internacional, propondo a coexistência amistosa entre os blocos antagônicos da “guerra fria” e pregando a transição pacífica - via eleitoral, principalmente – para a chegada ao socialismo. No Brasil, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), inteiramente alinhado à matriz soviética, resolveu também abrandar as formas de agir, decisão tomada no seu V Congresso, em 1960, quando foram expulsos dos seus quadros Maurício Grabois e João Amazonas, entre outros, que teimavam em postular a priorização da luta armada. Os comunistas do “Partidão”, assim, passaram a adotar a defesa da “via democrática” para a chegada ao poder e a conseqüente implantação da ditadura do proletariado, dentro da concepção leninista de que “a Democracia não é mais do que uma tática descartável como todas as táticas”.

Em 1962, enquanto o Brasil vivia a plenitude do exercício de um regime político inteiramente democrático, o PC do B, surgido do cisma ideológico do PCB, passou à defesa intransigente da tomada do poder pela “violência revolucionária”, para a imposição de um “governo popular e revolucionário”. A expressão “violência” não era mero instrumento de retórica para caracterizar um eventual incremento no ardor da revolução, mas, sim, um conceito doutrinário pelo qual não aceitavam nenhuma transição que não passasse pelo caminho das armas, como ensinava Mao Tse-tung, maior ideólogo da revolução chinesa: “não é possível transformar o mundo a não ser com o fuzil”. Dessa maneira, rompido com o centro irradiador tradicional, o PC do B foi buscar na China o exemplo a seguir, encontrando a fórmula da “Guerra Popular Prolongada”, pela qual atuaria o “Exército Popular”, a surgir da mobilização e organização das massas camponesas e “capaz de travar a guerra regular e empreender batalhas decisivas”. Para realizar toda essa intrincada estratégia revolucionária, urgia um começo, logo imaginado com a tentativa de organizar um movimento guerrilheiro, definido como: “a forma principal de luta na fase inicial da guerra popular, através da qual é que se poderá iniciar a ação armada contra os inimigos da Nação e começar a estruturar as Forças Armadas Populares”.

A formação de quadros do PC do B para a constituição do emergente núcleo guerrilheiro teve origem com o envio à China, em 1964 e ainda durante o governo João Goulart, do primeiro de um total de três grupos de militantes para treinamento na Academia Militar de Pequim.

A área escolhida para a implantação da guerrilha foi o “Bico do Papagaio”, no Estado de Tocantins, limitado, ao sul, pelo paralelo que passa pelo município de Araguanã; pelo rio Araguaia, a oeste; e pelo rio Tocantins, ao norte e leste. Genericamente chamado de Araguaia pelas partes conflitantes, o palco de operações, forrado por exuberante floresta equatorial, reunia excelentes condições para o esforço do PC do B na conquista do apoio da rarefeita população de cerca de 20 mil habitantes, em aproximados 7000 km2, historicamente esquecida por todas as esferas governamentais e vítima de graves carências sócio-econômicas. Os conflitos de terra e a pobreza eram motes valiosos para o trabalho de massas, assim como qualquer paliativo que viesse trazer alívio aos efeitos das deploráveis condições médico-sanitárias existentes.

Desde 1966 o PC do B passou a infiltrar militantes para o Araguaia, os quais logo tentaram conquistar a simpatia dos locais, por meio de alguma assistência social e de noções de organização comunitária, tudo acompanhado de crescente proselitismo político. Enquanto isso, os infiltrados passaram a familiarizar-se com o terreno hostil e apurar o adestramento militar, com a prática de: tiro; sobrevivência, orientação e deslocamento em área de selva; e técnicas de incursões armadas, fustigamentos e emboscadas. Os primeiros elementos chegados à região eram eminentes membros do Partido e quadros com o curso de capacitação militar realizado na China. Dentre os pioneiros citam-se: Osvaldo Orlando da Costa, Maurício Grabois, Líbero Giancarlo Castiglia, Elza Monerat, Ângelo Arroyo, João Amazonas, João Carlos Haas Sobrinho e Nélson Piauhy Dourado. Desses, não morreram na luta João Amazonas, Elza Monerat e Ângelo Arroyo, que desertaram em fases diferentes do conflito.

As “Forças Guerrilheiras do Araguaia” (FOGUERA) surgiam como o embrião de um movimento guerrilheiro com o qual o PC do B pretendia a sua Guerra Popular Prolongada. Premente se tornava dar-lhes forma para passar às operações de combate, sobretudo pela inevitável presença do oponente, ainda em pleno processo de organização delas. Para esse mister debruçou-se a Comissão Executiva do Partido, integrada por elementos do Comitê Central e única responsável pelos contatos das Forças com o mundo exterior. Subordinada, então, à Comissão Executiva estruturou-se a Comissão Militar (CM), encarregada de estabelecer, segundo estritas diretrizes recebidas: a estratégia de atuação guerrilheira; o treinamento militar dos destacamentos subordinados; e, entre outras, a atuação dos destacamentos junto às massas. Finalmente, à CM enquadravam-se três Destacamentos, constituídos de Grupos de sete elementos cada, assim nomeados: o “A”, com atuação na região da Transamazônica; o “B”, atuante no vale do Gameleira; e o “C”, com ações a sudoeste da serra das Andorinhas. Ao todo e até o final das operações o efetivo das FOGUERA beirou os setenta integrantes.

A organização das Forças era celular e obedecia a rigorosa “compartimentação”, com vistas à proteção do sigilo das operações e a preservar a identidade dos componentes. Assim, apenas o comandante o subcomandante de Destacamento conheciam as áreas de atuação de seus Grupos e de outros Destacamentos, bem como somente os comandantes de Destacamentos conheciam os locais de encontro com os integrantes da Comissão militar.

Pelo pretexto de não dispor de uma estrutura administrativa que lhes permitisse isolar desertores, elementos não-colaboradores ou militares eventualmente caídos prisioneiros ou feridos, as FOGUERA constituíam os “Tribunais Revolucionários” para “julgar” e “justiçar” indesejáveis. A esse poder supremo são creditadas as mortes de Rosalino Cruz Souza, militante desertor, e dos moradores locais Osmar, Pedro “Mineiro” e João “Mateiro”. A eliminação fria de inimigos foi tacitamente admitida no chamado Relatório de Ângelo Arroyo (Editora Anita Garibaldi – 1996), de autoria de um dos dirigentes da Comissão Militar, que assinalava como erro de “certa importância” para a derrota no Araguaia: “Não se ter justiçado determinados inimigos. É o caso dos bate-paus como Pernambuco, Antônio e o irmão, e talvez os elementos que haviam chegado de fora, suspeitos de pertencerem ao Exército”. Tais “órgãos de justiça” eram motivo de intensa propaganda, objetivando desestimular delações e constituir elemento de pressão psicológica. Irracional e vítima da “racionalidade guerrilheira”, a cadelinha “Diana”, mascote do Destacamento “A”, foi justiçada a facadas, pelo militante Micheas Gomes de Almeida, o “Zezinho”, acusada de denunciar a posição do Destacamento, por deslocar-se, levada pelo instinto materno, do ponto onde se encontrassem os seus amigos homens até o lugar onde estavam os seus filhotes, para, simplesmente, dar-lhes de mamar.

Quase oito anos se passaram na tentativa do PC do B de formar um movimento guerrilheiro que viesse empolgar as massas para a Guerra Popular Prolongada. O Relatório Arroyo exagerou e muito no “sucesso” obtido junto à população, contabilizando o apoio de 90% dela. Admite-se que, no máximo, cerca de 180 (cento e oitenta) habitantes locais, direta ou indiretamente, tenham aderido como combatentes ou colaboradores.

Durante tempo considerável, as FOGUERA ficaram isoladas do restante do País e sujeitas à sobrevivência pelos meios próprios e pelo que pudessem amealhar na selva onde se embrenharam. A caça e a pesca, apesar de abundantes, eram as únicas fontes de alimentos disponíveis. Por essa razão, o prosaico jabuti tornou-se verdadeiro símbolo da sobrevivência, merecendo a folclórica promessa da CM de eternizá-lo em estátua, “quando viesse a vitória do movimento”. Essa desesperadora situação de 1973 e o total abandono a que foram relegadas pelo Partido mereceram a crítica de Pedro Pomar, integrante do Comitê Central, que em 1976 admitiu ter o Exército conseguido, na ofensiva final, em menos de três meses dispersar os destacamentos guerrilheiros e até mesmo atingir e desmantelar a Comissão Militar. Segundo ele, a direção do Partido nas cidades perdeu o contato com os camaradas do sul do Pará, e não sabia quantos deles sobreviveram ou se sobreviveram. Ainda segundo Pomar, por dois anos o Comitê Central e o Partido ficaram em compasso de espera, confiando que alguma coisa ou informação desfizesse as dúvidas sobre o destino dos camaradas que se encontravam no Araguaia e sobre o fim ou não da luta guerrilheira.

A autocrítica é ainda mais ácida no Relatório Arroyo que apontou, dentre os inúmeros erros da Comissão Militar, o pequeno número de ações provocadas de moto próprio em dois anos de luta, o que ele constatou pelo fato de que a imensa maioria das baixas decorreu do fator surpresa, em decorrência do Exército ter mantido sempre a iniciativa das ações.

O PC do B também não dedicou nenhuma atenção ao restante dos militantes de base, que até 1976 desconheciam o fracasso no Araguaia e durante todo o tempo mantiveram-se iludidos pela propaganda ufanista provinda da Rádio Tirana da Albânia.

O fanatismo, a cega devoção à causa, e o entorpecimento de valores éticos e morais transformaram alguns integrantes das FOGUERA em lendas vivas aos olhos de humildes moradores locais, que, crédulos, chegavam a considerá-los verdadeiros totens e senhores da imortalidade, como Osvaldo Orlando da Costa, o “Osvaldão”, e Dinalva Conceição Teixeira, a " Dina".

A “saga” dos combatentes das FOGUERA e os seus decantados “heróis” não foram suficientes para levar a aventura a nenhum resultado prático, sobretudo pela falta de efetivo apoio político externo, já que a China, fonte inspiradora inicial, já buscava estabelecer relações diplomáticas com a “ditadura fascista brasileira”. Curiosamente, hoje a esquerda brasileira, malgrado críticas do próprio PC do B, dá ares de vitória ao movimento, ao qual rotula de “guerrilheiro” e, por conseguinte, merecedor do amparo das leis da guerra, especialmente da Convenção de Genebra. Desmemoriada por interesse, não considera que a violência revolucionária era um princípio ilegal, de uma entidade clandestina, que não contemplava a Democracia como um fim e nem mesmo como etapa política, e que transgredia o ordenamento jurídico de uma Nação soberana e legalmente reconhecida no concerto das Nações. Tudo, em suma, denota simplesmente o esforço em sacralizar um bando fora-da-lei, banalizando o crime em nome de uma finada ideologia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A CRISE DE 29 E A REVOLUÇÃO DE 30

1906: A produção brasileira de café já superava os 20 milhões de sacas. Com os preços em queda, os presidentes das províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais celebram o Convênio de Taubaté, (política de valorização do preço do café), fixando o preço mínimo para a saca de café e uma negociação de empréstimo externo no valor de 15 milhões de libras esterlinas para custear a compra de café pelos governos estaduais; criação de caixa de conversão; fundo para a estabilização do câmbio; imposição de taxa proibitiva para impedir o surgimento de novas plantações.

Celso Furtado em sua obra Formação Econômica do Brasil, resumiu as medidas:
O governo interviria no mercado, adquirindo os excedentes dos cafeicultores; visando estabelecer um equilíbrio entre a oferta e a procura;
O financiamento das aquisições se efetuaria mediante o recurso de capitais obtidos por empréstimos no estrangeiro;
A amortização e os juros do empréstimo, seriam efetuados mediante um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportado;
Visando solucionar a médio e longo prazo o problema do excesso de produção, os governadores dos estados produtores adotariam medidas visando desencorajar a expansão das lavouras pelos cafeicultores.
Quando os governadores conseguem desencorajar a produção, os preços do produto são mantidos artificialmente altos isso, porém, garante os bons lucros dos cafeicultores que, ao invés de diminuírem a produção de café, continuam produzindo-o em larga escala, obrigando o governo a contrair cada vez mais empréstimos para continuar adquirindo esses excedentes, num círculo pernicioso. O Estado adquiriu e estocou o produto para revenda em momentos mais favoráveis até 1924, ano em que foi criado o Instituto do Café de São Paulo que construiu os armazéns de valorização de café.

Celso Furtado aponta como a maior falha dessa política de valorização artificial do café não se ter incentivado a diversificação da pauta de exportações brasileiras, por meio de subsídios, para assim aliviar a pressão da oferta interna sobre a tendência da queda de preços verificada na época. Contudo, ele próprio concorda que tal ação governamental seria bastante dificultada por não corresponder aos interesses políticos predominantes na época, vinculados à exportação do café. Essa política adotada a partir do Convênio de Taubaté só ajudou a adiar o iminente fim do ciclo cafeeiro no Brasil, que aconteceu com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929.

1909: Primeiros efeitos da política de valorização. Os preços internacionais começaram a subir, enquanto a caixa de conversão conservava o câmbio artificialmente baixo.

1914: Durante a 1ª Guerra Mundial, o Brasil enfrenta dificuldade para vender seu produto no exterior. O governo federal e o estado de São Paulo começaram a subsidiar o produto, comprando e estocando.

1917: São Paulo acumula estoque de 3 milhões de sacas.

1918: a superprodução já era uma realidade, porém com a geada de 1918, há um interregno de bonança e o café com grandes excedentes no Porto de Santos, duplicou de preço e é todo vendido permitindo a Altino Arantes, (primo-2º de minha bisavó Ana Margarida de Arantes) um governo (1916-1920) cheio de realizações em São Paulo.

1920: A famosa crise do café que faz parte da história de tantas famílias paulistas que sofreram suas duras conseqüências começa na realidade em 1920, devido ao contínuo, descontrolado e excessivo aumento da produção do café cuja safra chegava a espantosos 21 milhões de sacas para um consumo mundial de 22 milhões, sem nenhum controle técnico/econômico de bom senso sobre o plantio e a produção.

1927: O Brasil exportou 15.115.000 de sacas de café.

1928: Houve mais outra enorme safra de café, porem a exportação caiu para 13.881.000 sacas (menos 11%) já que os EUA, França, Itália, Holanda e Alemanha, que compravam 84% da produção brasileira, estavam irritados com o Brasil e comprando de outros países, pois a nossa fama de exportador de café era péssima uma vez que aqui se misturavam pedras, terra e gravetos para aumentar o peso das sacas, alem de incluir café de qualidade inferior adulterando o produto final.

1929: Já havia uma série de falências e concordatas muito antes da quebra de Wall Street em Outubro de 1929, por exemplo, em Setembro de 1929 o Correio da Manhã anunciava 72 falências e concordatas!

Para piorar o contexto, em Outubro de 1929 os fazendeiros ainda estavam exportando a safra de 1927!! e a safra de 1928 estava toda ela retida nos armazéns de valorização de café que eram gerenciados pelo Instituto do Café que fora criado em São Paulo em 1924 para apoiar os fazendeiros paulistas com auxílio financeiro do governo federal.

Em Outubro de 1929 o Herald Tribune informava que 2/3 do café consumido no mundo inteiro era produzido em São Paulo e que o café representava 3/4 das exportações brasileiras e, por conta da crise mundial, o país estava em precária situação financeira.

Previa-se um déficit de 120.000 contos de réis no orçamento de 1930.

A total falta de planejamento e controle sobre a produção do café era suicida, pois o consumo mundial era de 22 milhões de sacas e o Brasil, sozinho, produzia essa quantidade sem nenhuma previsão firme de mercado comprador determinado.

1929: a safra projetada para 13,7 milhões de sacas chega a mais de 21 milhões e a exportação diminuía cada vez mais! E o valor da saca de café que era 200.000 réis em Agosto de 1929 caiu para 20.000 réis em Janeiro de 1930!!!!!

A crise nos EUA começou a 19/10/29 com a dificuldade de se levantar meros US$ 100.000 em fundos do governo americano. A crise arrastou milhões de pessoas na chamada matança dos inocentes (a famosa quinta feira negra de 24/10/29), onde pessoas ingênuas perderam tudo o que possuíam já que, em poucas horas, 12.894.650 ações trocaram de dono provocando uma das quedas de Bolsa de Valores mais drásticas da história e provocando a miséria de milhares de famílias nos EUA e uma onda de suicídios de investidores. Na Grande Depressão que se seguiu, o PIB dos EUA foi negativo em cinco de um total de oito trimestres, sendo que no pior deles o tombo foi de 7,8%. A inflação chegou a quase 15%, a taxa preferencial de juros bateu em 21,5% e o desemprego quase encostou em 11%.

Em Outubro de 1929 o Brasil pretendia emprestar US$ 50 milhões para permitir que o Instituto do Café ajudasse os fazendeiros paulistas, só que o governo americano recusou o empréstimo, pois não havia mais dinheiro disponível nos EUA para empréstimo externo. A crise de Wall Street numa série de falências de bancos (4.000) e firmas, gerando o desemprego (PIB americano cai 60%) alastrou-se para o mundo inteiro.

Um empréstimo de emergência de US$ 10 milhões da Schroeder and Company foi feito para alavancar o banco do Estado de São Paulo tendo como único motivo a necessidade de financiar o Instituto do Café de São Paulo e tentar evitar a quebradeira geral dos fazendeiros paulistas, acostumados a um altíssimo padrão de vida e renitentes em entender que estavam no limiar de uma drástica mudança de perfil econômico e social mundial, a partir da 1ª Guerra Mundial que devastou as bases da sociedade européia.

A queda das exportações do café diminuiu as importações de outros produtos e os negócios encolhem e provocam o fechamento de empresas. O comércio e a industria diminuem o movimento com a recessão e, como não havia dinheiro na praça, as fábricas quebram gerando um enorme desemprego em cascata que se alastra por todos os segmentos sociais.

O achatamento dos negócios, uma vez que o café está sem comprador, provoca a ruína, a desonra e a desgraça das famílias da aristocracia cafeeira, outrora abastada e acostumada a gastos e luxos que não podem mais manter, e muitos fazendeiros se suicidam ao se verem na miséria, alguns em desespero chegam a recorrer ao jogo para tentar salvar o patrimônio do naufrágio final que os arrastam sem clemência para o desastre total, como já acontecera em 1889 com a 1ª crise do café fluminense.

No Brasil aparecem notícias de falências, concordatas e tragédias familiares:
no Rio a tradicionalíssima firma Oswaldo Tardim & Cia quebra com um passivo de 3.359.534$900, que era uma enorme quantia para a época!
em São Paulo a população está estarrecida com a tragédia do palacete da rua Piauí no bairro de Higienópolis onde o empresário Abelardo Laudel de Moura de 28 anos, afogado em dívidas se arma com uma navalha e tenta matar a mulher, que consegue escapar, ele degola o filho de 2 anos e a filha e, em seguida, se suicida!
no interior o café é queimado, pois não há esperança de venda, nem há como arcar com o alto custo da estocagem do café de várias safras que não conseguem mercado consumidor e os grandes fazendeiros naufragam em dívidas e têm que, no desespero, vender as jóias de família para sobreviver.
Esta crise econômica repercute na disputa presidencial já em pleno conflito com a disposição de Washington Luis de romper o Pacto de Ouro Fino celebrado em 1912 que fixara a alternância de São Paulo e Minas Gerais no poder governamental, com a famosa política café com leite ao insistir no nome de seu afilhado político Júlio Prestes de São Paulo em detrimento do mineiro Antonio Carlos que deveria ser o próximo presidente eleito conforme o Pacto entre a oligarquia de Minas e São Paulo.
A súbita fraqueza econômica de São Paulo (a crise não atinge a economi a do Rio Grande do Sul com a mesma intensidade, pois o estado não dependia apenas do comércio exterior uma vez que vendia charque e arroz para o consumo interno brasileiro), é o fato gerador para alicerçar a ambição política de Getúlio Vargas que mantém, dissimuladamente, a aparência de aliado confiável de Washington Luis de quem, aliás, fora Ministro da Fazenda desde o início do governo em novembro de 1926 até o final de 1927 quando Vargas sai do Ministério para assumir o governo do Rio Grande do Sul.
Algumas forças políticas vêm em Vargas a forte opção para se contrapor a Washington Luís e à política café com leite, opção que evolui no meio efervescente das lutas políticas e interesses de vários personagens como Borges de Medeiros,(o Papa Verde), os tenentes de 1922 e 1924 (Siqueira Campos, Juarez Távora, Cordeiro de Farias), o que restara da Coluna Prestes com a facção marxista do Luis Carlos Prestes e Maurício de Lacerda, os comunistas do Paulo de Lacerda, até culminar com a deposição de Washington Luis a 24/10/1930 (praticamente 1 ano após o crash de 1929) que acaba com a hegemonia de São Paulo e Minas Gerais e promoverá a instalação de uma nova representação social no Brasil.
1930: o governo de Getúlio Vargas tira o poder político de São Paulo e Minas Gerais na política brasileira e muda radicalmente o modelo de sociedade constituída pelas grandes famílias agrárias de São Paulo/Minas Gerais como fonte de poder político e econômico. Getúlio é figurinha carimbada na história do Brasil; sua lembrança tanto serve para os que o odiavam como para os que até hoje o veneram. Para os primeiros, foi o “populista” que produziu um “mar de lama”; para os outros, foi o estadista que implantou um novo modelo de desenvolvimento que, apesar de seus defeitos, perdurou por mais de 50 anos, que bem ou mal incluiu à sociedade do século 20 as massas de trabalhadores pobres e sem direitos. Numa enquête popular realizada em 2007 Getúlio foi considerado o maior brasileiro de todos os tempos!!!
senha Histórica e a 1ª Crise do café de 1889: para entender esta dança do poder e das crises financeiras no Brasil, sempre causadas pela rotina de ascensão e queda das monoculturas brasileiras, vamos voltar no tempo:

ao sec. XVI/XVII açúcar: com o poder nas mãos dos riquíssimos senhores de engenhos de Pernambuco/Bahia que abasteciam o mundo com o açúcar a peso de ouro produzido nos engenhos de açúcar, que são o 1º grande motor agrário da economia do Brasil fazendo os primeiros milionários do Novo Mundo, como informam os registros de Pernambuco que, em 1580, apontam fortunas de 80.000 cruzados e em 1590 algumas fortunas superiores a 200.000 cruzados;

ao sec. XVIII ouro: com o poder nas mãos dos riquíssimos mineradores de ouro e diamantes de Minas Gerais que reconstruíram Lisboa e enriqueceram a Inglaterra e davam a Ouro Preto, em Minas Gerais, (120.000 habitantes), um luxo, riqueza e uma vida cultural de cidade européia no sertão do Brasil colonial, no apogeu da extração do ouro e brilhantes; que reconstrói Lisboa após o terremoto de 1755, (quando morreram 40.000 pessoas), graças ao ouro brasileiro (foram 1.094 toneladas de ouro e 3 milhões de quilates de brilhantes ou 2.500 toneladas de ouro e 1,5 milhões de quilates de brilhantes)

ao sec. XIX café fluminense: com o poder nas mãos dos riquíssimos cafeicultores, pois há uma correspondência, inequívoca, entre a força da província fluminense com o seu poderio econômico alicerçado no café e a força do Império Brasileiro dos Bragança, pois enquanto a província foi poderosa o Império brilhou e quando a província enfraquece o Império acaba.

É a 1ª Crise do café no Brasil nas terras fluminenses, provocada pela exaustão das terras e pela abolição da escravidão, que provoca a ruptura do Império e leva à República em 1889. Nesse caso não houve problema de superprodução, como a crise paulista de 1929, mas uma conseqüência do modelo de produção uma vez que houve uma total miopia do problema técnico por esses fazendeiros, pois eles não recompunham a força da terra exaurida pela cultura predatória sem adubação e, para aumentar a produção, plantavam sem nenhum cuidado de respeitar as curvas de nível e desmatavam ferozmente a mata virgem para ampliar as áreas de plantio alterando o microclima da região o que destruía os morros de terra nua após as chuvas, além disso os fazendeiros se prenderam, irresponsavelmente, ao valor do escravo como reserva de ativo financeiro seguro e, num instante, ficam sem os 2 ativos, pois os escravos são libertados sem indenização do estado e as terras cansadas e exauridas não tem mais nenhum valor comercial e, conseqüentemente, as famílias dos barões do café fluminense conhecem o desespero e a miséria que destrói o passado majestoso da região.

Hoje a região fluminense de Vassouras e Valença é uma sombra do que foi, não mais se avistam os extensos cafezais, que chegaram a ter 500 milhões de pés plantados, os palacetes das cidades estão em ruínas e as poucas soberbas sedes de fazenda que resistiram à decadência e aos cupins estão, todas, nas mãos de novos proprietários que, em alguns casos, fizeram intervenções, restaurando parte do esplendor do passado, porém em outros casos, nada foi feito e as sedes estão em plena decadência, arfando nos estertores finais de uma centenária trajetória que conheceu um formidável tempo de prestígio e glória para a sociedade agrária brasileira;

ao sec. XX café paulista: o poder do café chega a São Paulo na República do café com leite que proporciona a luxuosa belle époque paulista ainda ligada ao poder político/econômico agrário que sucumbe com o crash de 1929, na 2ª Crise do café, até chegar aos novos donos do poder, comerciantes/industriais, a partir de 1930, na dinâmica social que agita os países no limiar da 2ª Guerra Mundial.
Conclusão: a partir de Vargas, (que é uma conseqüência direta da Crise de 1929), o contexto social brasileiro sofre a influencia da multiplicidade das origens raciais, sem raízes no país, que formam um novo tecido social amplo e complexo com a participação dos imigrantes estrangeiros: italianos 1,6 milhão (só entre 1886/1900, entraram 921.000), espanhóis 694.000, alemães 250.000, japoneses 229.000 e árabes que mesclam à sociedade brasileira novos temperos que, até 1929, consegue manter uma certa similitude com o padrão de representação social-agrário como o fluminense dos tempos do Império destruído em 1889.

Com o crash do café em 1929 e o tremendo empobrecimento dos fazendeiros que se segue, muda definitivamente o padrão socioeconômico e o poder passa, rapidamente, das grandes famílias agrárias brasileiras para os industriais/empresários urbanos, majoritariamente estrangeiros, de origens e culturas diferentes onde o que qualifica, e diferencia, a importância das famílias, é a quantidade de dinheiro que elas têm e que estabelece a hierarquia social, sendo a única linguagem comum compreendida por todos esses novos atores da transformação social.

Assim sendo, o secular poder da aristocracia agrária brasileira passa radicalmente para os industriais e comerciantes, que se instalam como os novos mandatários do poder e donos do dinheiro e são eles que passam a moldar a dinâmica social com o êxodo do campo e a urbanização da nova sociedade através de uma linguagem sem fronteiras, que todos entendem, que é o dinheiro e o que ele pode comprar.

Essa nova sociedade que se forma no rastro da crise de 1929, tanto no país, como no mundo, segue em uma transformação acelerada até eclodir a 2ª Guerra Mundial. Porém há que se observar que, em todas estas transformações sociais se mantém o conceito da permanência histórica das elites no comando das mudanças sociais sempre manobrando em proveito próprio, que faz:
tudo mudar para continuar igual!!!

Fontes pesquisadas para estruturar este trabalho:

#Histórias de minha família, fonte primária: fazenda Baguary, Araraquara, SP.

#1930, Os Órfãos da Revolução, Domingos Meirelles, Editora Record, 2006, que é a base principal de informação dos dados técnicos que quantificam o trabalho. Produção de café: pgs: 332, 333, 431, 638, a exportação em 1927 de 15.115.000 de sacas é 2/3 do consumo do café no mundo, ou seja, o total consumido é de 15.115.000 dividido por 2 e depois vezes 3 o que dá: 22.672.500 sacas para o consumo mundial.

#Grupos qualitativos e disputa sem qualidade, artigo de Carlos Alberto de Melo, Cientista Político, doutor pela PUC-SP, Professor de Sociologia e Política do Ibmec São Paulo.

#Alcântara Machado (AM), José de, - Vida e Morte de Bandeirante, São Paulo, Martins, 1972.

#A Cidade e o Planalto, Gilberto Leite de Barros, Martins, 1967, I Tomo, em especial as pgs: 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16,17, 19, 21, 22, 23, 27, 28, 29, 35, 36, 37, 38, 40, 41, 44, 45, 49, 53, 54, 57, 60, 82, 83, 85, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 123, 124, 164, 168, 169, 173, 174, 180, 186, 188, 191, 193, 196.

#O Leopardo, de Tomaso de Lampedusa.

#Omegna (NO), Nelson, A Cidade Colonial, Brasília, Ebrara, 1971.

#Bueno (EB), Eduardo, Naufrágios, Traficantes e Degredados, Rio de Janeiro, Objetiva, 1998.

#Brasil: uma História, Eduardo Bueno, Atica, 2003.

#Barões e Escravos do Café, Sonia Sant´Anna, 2001.

#A Coroa, a Cruz e a Espada Eduardo Bueno, RJ, Objetiva, 2006.

#Café e Ferrovias Odilon Nogueira de Matos, 4ª Edição, 1990, pgs: 29 a 34.

#O feudo, Luiz Alberto Moniz Bandeira, RJ, Civilização Brasileira, 2ª edição, 2007Brasil.

#Tragédia em Wall Street, Aventuras na História, Julho 2008, Editora Abril.

#Wikipédia: Convênio de Taubaté, #www.castanhal.com.br: História do café: Desde o Convênio de Taubaté, 1906 a 2006.

#Jack Welch com Suzy Welch, Portal Exame, 05/12/2008.

#VASSOURAS a Brazilian Coffee County, 1850-1900 Stanley Stein, Harvard University, 1957:

retrata de maneira clara e objetiva o começo, formação e início da decadência de Vassouras, quando terminam as matas virgens para derrubar e plantar e a rotina míope dos vassourenses que não adubam ou cuidam de proteger a terra onde plantam; e eu nunca tinha lido sobre a confusão e decadência que causou a implantação da estrada de ferro (D. Pedro II) para as vendas e comércio da estrada de terra (Estrada da Polícia). Também me impressionou a mudança das tropas de mulas (cada uma com 9 arroubas) que custavam 33%!!!!!!!!! do que valia o café para transportá-lo até o Rio e quando chega o trem que facilita tudo e fica rei o carro de boi que carregava 100 arroubas até as estações e derruba o custo do transporte e a perda de café e mulas nos constantes acidentes anteriores e Vassouras fica riquíssima e muito sofisticada no seu modo de vida.

Pg 226 os escravos entre 1857-58 valem 73% do valor da fazenda.

Pg 246 em 1882 o escravo é o que vale nas fazendas, pois tem liquidez e as terras estão exauridas.

Pg 247 as propriedades em 1888 desvalorizam 10 vezes em relação a 1860 e o escravo tem valor zero na composição do valor das fazendas.

Pg 251 estima m 500.000 escravos libertos em maio/1888.

pg 260 estima em 500 mil contos de réis a necessidade de dinheiro.

Pg 286, 287, 288: o pasto invade os cafezais e o êxodo das famílias dos antigos fazendeiros segue firme.

Pg 293

em 1825 > 1US$ dolar = 1 conto de reis e passa a equivaler em:

1850 > 0,58US$ dólar = 0,58 conto de reis

1900 > 0,19US$ dólar = 0,19 conto de reis

Pg 294 estima em 17.319.556 hab. a população do Brasil

Pg 295 estima em 1887 > a existência de 637.602 escravos


BANDEIRA NACIONAL

Nesse dia - um sábado de céu azulado -, recusando-se obedecer as ordens das Cortes Portuguesas, D. Pedro, às margens do riacho Ipiranga (Rio Vermelho - do tupi), em São Paulo, proclamou a emancipação política do Brasil. Depois de proferir o brado de "Independêcia ou Morte!" e de ordenar "Laços Fora!", arrancando do chapéu o tope português, exclamou: "Doravante teremos todos outro laço de fita, verde e amarelo. Serão as cores nacionais".



No dia 18, D. Pedro I firmou os três primeiros atos oficiais do Brasil independente.

No segundo decreto, decidiu criar um novo tope nacional e ordenou: "O laço ou tope nacional brasileiro será composto das cores emblemáticas: verde de primavera e amarelo de ouro ...."



Escudo do Brasil Império, com os ramos de fumo e café, as

estrelas/províncias, a cruz de Cristo e a esfera armilar lusitana

O terceiro decreto, publicado em 21/9/1922, criou a Bandeira Nacional: "... hei por bem e com o parecer do meu Conselho de Estado, determinar o seguinte: será, dora em diante, o escudo de armas deste Reino do Brasil, em campo verde, uma esfera armilar de ouro, atravessada por uma cruz da Ordem de Cristo, sendo circulada a mesma esfera de 19 estrelas de prata em uma orla azul; e firmada a coroa real diamantina sobre o escudo, cujos lados serão abraçados por dois ramos de plantas de café e tabaco como emblemas de sua riqueza comercial, representados na sua própria cor, e ligados na parte inferior pelo laço da nação. A bandeira nacional será composta de um paralelogramo verde, e nele inscrito um quadrilátero romboidal cor de ouro, ficando no centro deste o Escudo das Armas do Brasil".

domingo, 14 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A HISTÓRIA NO VESTIBULAR DA UEPA

UMA DAS ANALISES QUE DEVE SER FEITA AO ESTUDAR HISTÓRIA PARA O VESTIBULAR DA UEPA, É SOBRE A QUESTÃO DOS EIXOS TEMÁTICOS QUE ELA PROPOE AO ALUNO. A FORMULA CERTA PARA SE ESTUDAR HISTÓRIA PARA VESTIBULAR NAO CONTEMPLA DATA E NOMES E SIM A COMPREENSÃO DOS PROCESSOS HISTÓRICOS, SEJAM DE MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO OU NO MEIO AMBIENTE...

A ÉPOCA DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA INTERNACIONAL

Com a guerra imperialista de 1914-18, fica claro que havia terminado a época progressista de
desenvolvimento e enriquecimento da sociedade, sob o sistema capitalista. As forças produtivas deixam
de crescer.
A partir de então, entramos na época histórica em que vivemos até hoje: uma época de decadência e
empobrecimento cada vez maiores da sociedade humana, cruzada por guerras terríveis, que destroem
homens e forças produtivas de forma massiva, ao mesmo tempo que é a época de maior desenvolvimento
da técnica.
Chega ao fim a época anterior, de tipo reformista. Daqui por diante, o proletariado e todos os explorados
vêem-se necessitados de fazer revoluções e guerras civis para acabar com o sistema capitalista em
decomposição, quer dizer, imperialista.
Começa a época das revoluções anticapitalistas, operárias ou socialistas. É também a época das contrarevoluções
burguesas. A primeira revolução operária triunfante, que inaugura esta nova época, é a
Revolução Russa de 1917. Com ela começa a revolução socialista mundial. Isto significa que, pela
primeira vez na história, o processo revolucionário não é uma soma de revoluções, e sim um só processo
de enfrentamento da revolução e da contra-revolução, à escala de todo o planeta, sendo as revoluções
nacionais episódios importantes deste enfrentamento mundial.
Estudando o desenvolvimento da Revolução Russa de Outubro, o marxismo revolucionário definiu o que
se convencionou chamar uma revolução "clássica". Isto nos obriga a pararmos para definir, em grandes
traços, suas distintas etapas e os fenômenos que nela ocorreram, para, depois, tomá-los como ponto de
referência, comparando-os com outras revoluções que aconteceram mais tarde e que tiveram
características distintas.
A Revolução Russa
A revolução russa se deu atrav6s de vários fenômenos ou acontecimentos. Entre eles, nos ocorridos na
revolução dc fevereiro se combinam características de fundamental importância.
a) A revolução de Fevereiro:
Resumindo, a revolução de fevereiro se caracteriza pelo seguinte:
Primeiro, é uma mobilização operária e popular urbana, de caráter insurrecional, sem ireção partidária,
embora os operários de vanguarda, em especial os educados pelos bolcheviques, cumpram um papel de
direção.
Segundo, essa mobilização urbana não derrota as forças armadas, mas somente provoca uma profunda
crise em seu seio.
Teceira, por seu objetivo imediato, pela tarefa histórica que cumpre, é uma revolução democráticoburguesa,
já que derruba o czar para instaurar um regime democráticoburguês.
Quarto, essa revolução democrático-burguesa é parte da revolução socialista internacional: mais
concretamente, é parte fundamental da luta do proletariado mundial para transformar a guerra imperialista
em guerra civil.
Quinto, também 6 parte da revolução.socialista na própria Rússia, já que o poder do czar não era só o dos
latifundiários, mas também em grande parte, era o poder da própria burguesia que havia pactuado com o
czar.
Sexto, também era parte da revolução socialista na Rússia porque a classe que havia derrotado o czar era a
classe operária como condutora do povo, principalmente dos soldados.
Sétimo, também era socialista porque os trabalhadores e o povo somente poderiam solucionar os
problemas diários que os angustiavam se enfrentassem de forma imediata os latifundiários e capitalistas,
que, com a queda do czar, tinham se transformado em inimigos imediatos e diretos dos trabalhadores.
Oitavo, tudo isso significava que a revolução de fevereiro colocava na ordem do dia a tarefa estratégica de
fazer uma revolução socialista nacional e internacional, na medida em que os explorados continuariam
sendo explorados se o processo revolucionário se detivesse na revolução de fevereiro e nas fronteiras
nacionais, quer dizer, se continuasse existindo um poder burguês.
Nono, os trabalhadores não eram conscientes de que a revolução que realizaram era socialista nos
aspectos que assinalamos e que exige, portanto, avançar até a tomada do poder pela classe operária.
Depois de fevereiro, os trabalhadores acreditavam que não era necessário fazer outra revolução. Por isso,
como Trotsky, chamamos de revolução inconsciente à de fevereiro.
Décimo, os partidos reformistas que dirigem o movimento operário e de massas, não satisfeitos em
defender o regime burguês e de compor um governo com a burguesia, inculcam no movimento de massas
o respeito ao regime burguês e combatem duramente a luta por levar a cabo a revolução socialista, com o
pretexto de que a revolução de fevereiro será toda uma época (ou seja, que o regime democrático burguês
poderia durar muito tempo), até que se possa colocar a revolução socialista (somente quando a Rússia
fosse um grande país capitalista); e que portanto a sua primeira tarefa era desenvolver o capitalismo.
b) O poder dual:
Como produto do triunfo da revolução de fevereiro, surge um regime absolutamente diferente do
czarismo, com amplíssimas liberdades democráticas, assentado num exército em crise e,
fundamentalmente, nos partidos pequeno-burgueses que dirigem o movimento de massas. Desaparece a
instituição monárquica czarista e passam a jogar um papel central, como instituição de governo, os
partidos operários e populares dirigidos pela pequena burguesia. Devido ao ascenso revolucionário, esse
regime é extremamente débil. A Terceira Internacional o definiu como um regime kerenskista, porque foi
Kerensky quem simbolizou suas diversas etapas.
Essa profunda revolução no regime político não se refletiu no caráter do estado, que continuava sendo um
instrumento da burguesia e dos latifundiários. Não se deu uma mudança nas classes que detinham o poder
estatal.
Mas, de qualquer maneira, se deu uma situação extremamente crítica em relação ao estado, que já se havia
dado em outras oportunidades, mas que na Rússia, depois de fevereiro de 1917, adquiriu um caráter
dramático. Abre-se uma etapa de subsistência do estado burguês, porém completamente em crise. Essa
crise é conseqüência do fato que o movimento operário e de massas, através de suas próprias instituições,
mandava, tinha poder em muitos setores da sociedade, tanto ou mais poder que o estado burguês. Os
órgãos de luta e de poder do movimento de massas foram os sovietes de operários, camponeses e
soldados, os sindicatos, os comitês de fábrica. Os sovietes eram organismos de poder "de fato". Em alguns
lugares, o povo fazia o que o soviete ordenava, não o que ordenava o governo. Em outros lugares, era o
contrário. Por isso o chamamos de poder dual ou duplo poder. Isto era dinâmico, mudava. Porém, tomado
de conjunto, o poder mais forte, quase dominante, eram os sovietes, não o governo burguês.
O poder soviético se assentava na crise do estado burguês, fundamentalmente na profunda crise das forças
armadas, em que os soldados não acatavam as ordens e desertavam aos milhares da frente de combate.
Diante desse estado semidestruído, o poder dominante era o operário, camponês e dos soldados.
Definimos o kerenskismo e o poder dual como um regime porque é uma combinação, embora muito
instável, de distintas instituições: o governo, a cúpula militar e os partidos burgueses e pequeno-burgueses
por um lado, e por outro, os sovietes e outras organizações operárias e populares.
O poder da burguesia vinha também dos próprios sovietes, porém de forma indireta, através de sua
direção. Os socialistas revolucionários e mencheviques tinham a maioria nos sovietes e convenciam os
operários, camponeses e soldados de que tinham que apoiar o governo burguês.
c) O golpe de Kornilov:
No transcurso da revolução russa ocorre, pela primeira vez na história (com a única exceção da repressão
à Comuna de Paris) um golpe contra-revolucionário de tipo burguês, capitalista. Houve quem opinasse
que o golpe de Kornilov era pró-czarista, a serviço dos latifundiários feudais. Trotsky polemizou contra
eles, insistindo em que era um golpe claramente pr&capitalista e contra-revolucionário, não pró-feudal.
Esse golpe, que nao triunfou, prenuncia futuros golpes da contra-revolução burguesa que mais tarde,
desgraçadamente, triunfaram: o de Mussolini, Chiang Kai Chek, Hitler e Franco.
Com Komrnilov surge, pois, um novo tipo de contra-revolução: a contra-revolução fascista,burguesa, não
feudal.
O golpe de Kornilov é derrotado pela mobilização da classe operária e de todos os partidos que se
reivindicam dos trabalhadores, que se unem para enfrentá-lo. Os bolcheviques mudam a sua tática. Até
então, vinham centrando todos os seus ataques contra Kerensky e colocando que devia ser derrotado e que
os sovietes deviam tomar o poder. Porém, quando Kornilov ataca, definem que esse golpe é o grande
perigo contra-revolucionário e chamam à unidade de todos os partidos operários e populares, em primeiro
lugar ao próprio Kerensky, para combater, de armas na mão, a contra-revolução de Kornilov. Passam a
um segundo plano os ataques a Kerensky. Deixam de exigir sua derrubada de forma imediata, como
tinham feito até então. Agora, denunciam Kerensky porque é incapaz de fazer uma luta revolucionária
conseqüente, apelando para medidas anticapitalistas audazes, de transição, para derrotar Kornilov.
d) O governo operário e camponês:
Para essa etapa da revolução, Lênin e Trotsky levantaram uma possibilidade política e uma palavra-deordem:
que os partidos reformistas (socialista-revolucionário e mencheviques) tomassem o poder, como
direção indiscutível dos sovietes. Tratava-se de fazer uma revolução que mudasse o caráter do estado,
construindo um novo sobre a base de instituições soviéticas. Se os partidos reformistas aceitassem a
proposta de Lênin, essa revolução seria pacifica. Ao mesmo tempo, se os reformistas o fizessem, os
bolcheviques se comprometiam a não apelar para a luta violenta para derrotá-los e sim para a luta pacifica
dentro dos sovietes, para tentar conquistar a maioria, e converter-se no partido governante desse novo
estado, o estado operário soviético. Essa política de Lênin e Trotsky foi rechaçada pelos partidos
reformistas, que se negaram a levar os sovietes ao poder.
Essa reivindicação ficou como uma hipótese teórica de amplas perspectivas para o futuro das lutas
revolucionárias, embora acreditemos que levou a algumas confusões sobre o desenvolvimento e o caráter
dessa política e o tipo de estado que surgiria se tivesse êxito.
e) A revolução de Outubro
Foi uma insurreição dirigida e organizada pelo partido operário marxista revolucionário, os bolcheviques.
Ganharam a maioria dos sovietes e os dirigiram a fazer uma revolução contra Kerensky, quer dizer, contra
o regime de fevereiro e seu governo, e fizeram com que os sovietes tomassem o poder. Foi definida por
Trotsky como a revolução consciente. Desta forma, mudaram o caráter do estado. Ao contrário da
revolução de fevereiro, com esta revolução não foi apenas o regime político que mudou, mas também o
caráter do estado: deixa de ser um estado a serviço da burguesia e nasce um estado da classe operária
apoiada nos camponeses e nos soldados. Não é uma revolução somente política, como a de fevereiro, mas
uma revolução social.
Como toda revolução social, a de outubro também é uma revolução política, porque inaugura um novo
tipo de regime, quer dizer, mudam totalmente as instituições que governam. Até outubro, governavam os
partidos burgueses e pequeno-burgueses reformistas, apoiando-se no exército burguês em crise. A partir
de outubro, desaparecem o exército e a polida da burguesia e deixam de governar os partidos burgueses e
pequeno-burgueses reformistas. Começa a dirigir o estado uma instituição ultra-demócratica e que
organizava o conjunto dos explorados: os sovietes de operários, camponeses e soldados. À frente destes
novos organismos ou instituições do Estado se coloca o partido bolchevique, que era um partido
revolucionário, internacionalista e também profundamente democrático, onde se discutia tudo através de
tendências, frações ou individualmente, e praticamente nada se votava por unanimidade.
f) A revolução econômico-social:
Cerca de um ano depois da revolução de outubro, se realiza a expropriação da burguesia. Foi uma medida
defensiva do~regime soviético, diante da sabotagem econômica dos donos das empresas industriais.
Embora a expropriação não seja produto de nenhuma mudança no caráter do Estado e do regime político,
que continua sendo o poder da classe operária e do povo (Estado)dirigidos pelos sovietes acaudilhados
pelo partido bolchevique (regime), é a grande revolução, porque transforma repentinamente as relações
sociais de produção. A partir da expropriação e estatização das indústrias, desaparece a burguesia como
classe social e se instaura a economia nacionalizada, planificada e operária.
Esta revolução, a mais importante de todas, embora não se dê na esfera política e sim na econômica, se
denomina revolução econômico-social. É a mudança total do caráter da economia.
g) A guerra civil:
É o enfrentamento final, armado, entre o proletariado e a burguesia. Esta, em unidade com o imperialismo
mundial, tenta fazer uma contra-revolução para reinstalar os burgueses e senhores de terra na propriedade
e no poder do Estado, e é derrotada. Durante meses e meses, se enfrentam um conjunto de exércitos
reacionários, contra-revolucionários, ligados aos diferentes imperialismos e a intervenção de fato de 21
países capitalistas, contra o exército vermelho. A guerra civil é a expressão da luta de classes, com
enfrentamentos entre territórios e exércitos inimigos, que refletem classes diferentes. Só depois da guerra
civil pode-se dizer que surgiu um governo unitário para toda a U.R.S.S.

AS REVOLUÇÕES DEMOCRATICO BURGUESAS

Comecemos com as grandes revoluções democrático-burguesas do século XVIII e XIX. É a época em quea burguesia que é oprimida pelos estados feudais (na Europa) ou pelas metrópoles (nas colônias), utiliza amobilização popular revolucionária contra o feudalismo para impor o seu domínio político e adequar oEstado, suas instituições e suas leis ao seu já desenvolvido domínio econômico. Nessa 6poca, podemosdiferenciar dois tipos de revoluções: a revolução democrático-burguesa contra o estado feudal, a nobreza e
a igreja latifundiária, e a revolução democrático-burguesa em prol da independência nacional das colônias
com relação aos impérios metropolitanos.
A Revolução contra o Estado feudal
O modelo clássico deste primeiro tipo de revolução 6 a revolução francesa de 1789. A burguesia se apóia
na mobilização do povo, derruba o rei, expropria a nobreza e o clero latifundiário, instaura um novo
regime político assentado em instituições democráticas burguesas (a Convenção e a Comuna de Paris) e
modela em seu próprio benefício o estado, eliminando as diferenças de sangue e instaurando como
princípio básico de organização social a propriedade privada e capitalista.
Quem dirige todo esse processo, quando a revolução chega ao ponto culminante, é o partido jacobino. É o
partido da pequena burguesia radicalizada, que não pode fazer um estado à sua imagem e semelhança, isto
é, pequeno burguês, já que quem dominava a economia era a burguesia.
A classe trabalhadora era muito débil para constituir uma alternativa econômica, para impor uma
economia nacionalizada por ela, nem tampouco uma alternativa política.
Setores jacobinos fizeram-se burgueses vendendo provisões ao exército, debilitando assim a direção
pequeno-burguesa. Esta, por sua vez, foi revolucionária enquanto enfrentou a contra-revolução feudal,
mas foi reacionária ao aplicar a repressão sobre a sua esquerda plebéia, esta sim muito mais
revolucionária que os jacobinos. Os jacobinos foram derrotados pela burguesia, que instaurou um regime
contra-revolucionário, capitalista, ditatorial.
A contra-revolução burguesa massacrou o povo revolucionário para implantar um regime estáveL Este
novo regime 6 o bonapartismo. É um regime totalitário, onde um indivíduo, Napoleão Bonaparte, se
coloca acima das classes e setores, arbitrando entre eles, apoiando-se no aparelho estatal e
fundamentalmente no exército. Este regime, que é reacionário em relação à revolução, 6 progressista em
relação à sua época, na medida em que enfrenta a contra-revolução feudal, consolidando e expandindo o
regime burguês no resto da Europa.
A Revolução Antifeudal e de Independência Nacional
Antes da revolução francesa ocorreu, na América do Norte, o segundo tipo de revolução que assinalamos:
a democrático-burguesa e de independência nacional. Nos Estados Unidos, uma grande revolução derrota
o imperialismo colonialista inglês, capitalista, conquista a independência e instaura um regime
democrático-burguês, o primeiro que se constituiu plenamente na história da humanidade, mesmo com a
enorme contradição do escravismo. Em outras palavras, a revolução norte-americana liberta o país do
fardo colonial, instaura um regime de liberdades democráticas burguesas de uma amplitude até então
desconhecida.Mas não liberta os escravos.
Já essa revolução, embora dirigida e controlada pela burguesia norte-americana, apresenta elementos
anticapitalistas: o inimigo que enfrenta não é um império escravista ou feudal, e sim o da potência
capitalista mais poderosa da época - a Inglaterra. Porém não 6 uma revolução anticapitalista, mas uma
revolução burguesa para acabar com a opressão de outra burguesia e poder desenvolver plenamente o
capitalismo.
Similares à francesa são outras revoluções européias que se deram durante todo o século XIX, como a
alemã e a italiana para alcançar a unidade nacional. Similar ao norte-americano é o processo de
independência das colônias centro e sul-americanas, que enfrentam um imperialismo semicapitalista
como o espanhol ou decadente como o português.
O Bismarckismo
Ao longo do século XIX continuaram ocorrendo revoluções democrático-burguesas, como a alemã de
1848. Porém, a burguesia é cada vez menos revolucionária. Ela se atemoriza ante a mobilização popular e
tenta mudar o caráter da sociedade e do estado por vias cada vez mais reformistas, não se apoiando na
mobilização do povo e sim pactuando com as classes feudais essa transformação. Nasce assim, na
Alemanha, um novo regime: ode Bismarck. Esse regime, também como um árbitro individual, faz pactos
entre a burguesia alemã e os príncipes feudais, os "junkers". Faz concessões a um e a outro lado, porém
sempre dentro de uma linha de alcançar uma Alemanha unificada e capitalista. Não busca liquidar física e
politicamente os nobres, como fez a revolução francesa, e sim convertê-los em grandes capitalistas. Para
frear alguns ímpetos exagerados de setores burgueses, o bismarckismo faz concessões e pactos inclusive
com a classe operária e seus partidos, utilizando-os como contrapeso a esses ímpetos. Essa 6 uma
diferença fundamental em relação ao bonapartismo. Enquanto este 6 muito totalitário e não faz
concessões de nenhum tipo aos trabalhadores, o bismarckismo se baseia precisamente nas concessões à
direita e à esquerda para fazer urna transformação reformista da sociedade e do estado.
Cabe esclarecer, por último, que essa transição bismarckista ou reformista, de uma sociedade e um estado
feudais para uma sociedade e um estado capitalista, pode se dar porque tanto os nobres como a burguesia
são classes exploradoras. Um nobre pode se transformar cm burguês, perdendo alguns privilégios de
sangue, porém pode chegar a ser muito mais rico como burguês do que como nobre. Bismarck se
encarregou de convencê-los pacificamente disso, O reformismo não é viável, ao contrário, na passagem da
sociedade capitalista à socialista, porque esta significa a perda de todos os privilégios e de toda a fortuna
para a burguesia, a qual de nenhuma maneira pode aceitá-lo pacificamente.
A Época das Reformas e Reacções
A partir de 1880, abre-se uma época de auge impressionante da economia capitalista. É a época do
surgimento dos monopólios, do imperialismo e do capital financeiro. Esse grande desenvolvimento
enriquece a burguesia e também o conjunto da sociedade. Embora a burguesia não dó nada de presente ao
proletariado, este, através de duras lutas, arranca-lhe conquistas e melhorias consideráveis: a jornada de
oito horas, melhores salários, legalidade para os seus partidos e sindicatos, etc. O proletariado não se vê
diante do dilema de fazer a revolução socialista para não morrer de fome. A burguesia consegue evitar a
explosão de lutas revolucionárias, apaziguando os trabalhadores com essas melhorias e reformas.
A época das revoluções democrático-burguesas contra o feudalismo ficou para trás. Porém, ainda não se
abriu a das revoluções operárias contra o capitalismo. Há uma revolução precursora, anterior até a essa
época reformista, em 1871, quando se dá a primeira revolução operária: a Comuna de Paris, que começa
lutando contra a invasão alemã e termina lutando contra a burguesia, até ser esmagada com métodos
contra-revolucionários pela burguesia francesa.
É uma época em que já o ponto de referência é a luta do proletariado contra a burguesia. Mas essa luta
tem um caráter reformista. O proletariado luta por conquistas parciais e consegue reformas. A burguesia
outorga essas reformas, mas também, em muitas oportunidades, as ataca com métodos reacionários,
repressivos. Essas reações não são contra-revoluções: em geral, não se utiliza contra o movimento
operário métodos de guerra civil, nem se instauram regimes contra-revolucionários assentados nesses
métodos.
Há, nessa época, revoluções e contra-revoluções. Em 1905, na Rússia, explode uma revolução contra o
czar, que não triunfa. Em 1910 se dá a grande revolução mexicana, de tipo camponês, que impõe a
reforma agrária. Em princípios do século XX cai a dinastia chinesa.
Porém, estas revoluções são exceções dentro dessa época, em que predomina a reforma e a reação. São
revoluções que prenunciam a época que virá, a das revoluções proletárias, mas não mudam o caráter
reformista e reacionário dessa época.
Precisamente por esse caráter, durante toda essa época, os regimes burgueses não perdem seu caráter
democrático, que pode ser amplo ou restrito (como o bonapartismo francês). A única exceção entre as
grandes potências é a Rússia, onde existe um regime totalitário, o do czar que se sustenta na nobreza
latifundiária. Embora já combine importantes elementos de estado e regime capitalistas, o regime do czar
continua sendo a contra-revolução feudal.

A REVOLUÇÃO RUSSA

As etapas da revolução socialista
Toda época tem suas etapas. As etapas são períodos prolongados de tempo em que a relação de forças
entre as classes em luta se mantém constante. O fato de que vivemos uma época revolucionária a nível
mundial desde 1917 não significa que nestes últimos 66 anos sempre tenha estado o proletariado numa
ofensiva revolucionária. Como em toda luta, existem períodos em que o inimigo contra-ataca e retoma a
ofensiva. Neste caso, pode dar-se uma etapa de ofensiva ou contra-ataque contra-revolucionário burguês,
dentro da época da revolução operária e socialista.
Desde a revolução russa passamos por três grandes etapas:
1) A etapa da ofensiva revolucionária da classe operária
Inicia-se com a revolução russa e se estende com sucessivas revoluções: a alemã, a húngara, a chinesa, a
turca, etc. A única que consegue triunfar é a russa (1917-23).
2) A etapa da contra -revoluçt2o burguesa
Insinua-se com o primeiro triunfo contra-revolucionário burguês: o fascismo italiano; consolida-se
claramente com a vitória do hitlerismo na Alemanha, que derrota o proletariado mais organizado do
mundo, e culmina com a derrota da revolução espanhola e com a ofensiva militar do nazismo na segunda
guerra mundial,vitoriosa até 1943 (1923-43).
3) A nova etapa revolucionária
Inicia-se com a derrota do exército nazista em Stalingrado e abre um período de revoluções triunfantes
que se estende até o presente.
A primeira delas é a iugoslava, passa por sua máxima expressão na chinesa e teve sua última vitória (no
sentido de que se expropria a burguesia e se constrói um estado operário), até agora, no Vietnã, em 1974.
Chamamos esta etapa de "revolução iminente", porque, diferente da etapa aberta com a revolução russa,
cujo impacto se resumiu a alguns países da Europa e do Oriente, na presente etapa a revolução eclode e
ocasionalmente triunfa em qualquer parte do globo: nos países semicoloniais ou coloniais (China, Vietnã,
Cuba, Irã, Angola e etc.) Nos próprios países imperialistas (ainda que somente nos mais débeis, como
Portugal) e nos estados operários (Hungria, Polônia).
As etapas e situações mundiais e nacionais
Todos os termos ou categorias que os marxistas utilizam,como época, etapa e situação, são relativos ao
que estamos definindo. Já vimos que pode haver, uma etapa contra-revolucionária dentro de uma época
revolucionária a nível mundial. Porém, a revolução é um fenômeno mundial que se desdobra em
revoluções nacionais.
Disto tiramos que pode haver e há contradições entre a etapa que se vive a nível mundial e as etapas que
atravessam diferentes países.
Por exemplo, nesta etapa de revolução iminente que vivemos a nível mundial desde 1943, muitos países
atravessaram ou atravessam etapas contra-revolucionárias a nível nacional (Indonésia, o Cone Sul latinoamericano,
a URSS, etc) Outros países mantiveram-se em etapas de pouca luta de classes, de equilíbrio na
relação de forças entre o proletariado e a burguesia, quer dizer, etapas não-revolucionárias (quase todos os
países imperialistas e muitos semicoloniais). E outros que já mencionamos, finalmente, que são os que
marcam a dinâmica, o signo da etapa revolucionária, atravessaram etapas revolucionárias que levaram ao
triunfo da revolução, que foi abortada ou congelada, ou que foi derrotada.
Da mesma forma, dentro de uma etapa podemos encontrar diferentes tipos de situações. Uma etapa
revolucionária não pode deixar de sê-lo se a burguesia não derrotar duramente, na luta, nas ruas, o
movimento operário. Por6m, a burguesia, se tiver margem, pode manobrar, pode convencer o movimento
operário que deixe de lutar. Assim se abriria uma situação não-revolucionária, por6m a etapa continuaria
sendo revolucionária, porque o movimento operário não foi derrotado. Inclusive, a burguesia pode
reprimir, sem chegar aos m6todos de guerra civil, o movimento operário e impor derrotas que o fazem
retroceder, abrindo uma situação reacionária, porém continuaria estando dentro da etapa revolucionária.
Por exemplo, o governo de Gil Robles, que ocorreu no meio da revolução espanhola, iniciada em 1931,
foi um governo reacionário que reprimiu duramente o proletariado e criou uma situação reacionária.
Porém, ao não ser derrotado o conjunto do movimento operário espanhol, a etapa continuou sendo
revolucionária. A melhor prova disso 6 que poucos anos depois estourou a guerra civil.

AS GRANDES ÉPOCAS REVOLUCIONÁRIAS

Desde que existem as revoluções modernas, que nascem da luta do capitalismo contra o feudalismo,
podemos distinguir três grandes épocas:
1. A época de revolução burguesa
Durante aproximadamente duzentos anos, a burguesia lutou contra o feudalismo que já se tinha tornado
um entrave absoluto para o desenvolvimento das forças produtivas. Esta época, que teve um salto
fundamental na revolução de Cromwell, na Inglaterra, culminou com as grandes revoluções norteamericana
e francesa do final do século XVIII.
2. Reforma e reação (1880-1914)
Foi época do auge do capitalismo. Depois da revolução francesa, podemos dizer que, em todo o mundo, já
começa a ser dominante não só a produção capitalista - que já o ora desde há trezentos anos - mas também
o estado capitalista. Entra-se numa época não revolucionária, em que a estrutura social capitalista e seu
estado não freiam, e sim desenvolvem aceleradamente as forças produtivas, enriquecendo toda a
sociedade.
A partir de 1880 se produz o salto mais fantástico, até então, das forças produtivas.
O desenvolvimento da produção é colossal. Nos países capitalistas avançados se produz una imensa
acumulação de capitais.
Essa época de auge prepara a decad6ncia do sistema capitalista. Como produto dessa tremenda
acumulação de capitais surgem os monopólios e o imperialismo. Ramos inteiros da produção industrial se
concentram em muito poucos proprietários e começam a substituir a burguesia clássica, com centenas de
empresas competindo livremente entre si. Torna-se dominante o capital financeiro, que é a fusão do
capital bancário com o industrial. As fronteiras nacionais ficam estreitas para esses imensos monopólios
que devem, para continuar crescendo, exportar esses capitais aos países atrasados. O imperialismo,
capitalismo em decadência, é precisamente isso: o domínio do capital financeiro e monopolista que
invade todo o planeta.
3. A época da revolução operária e socialista
Começa com a primeira guerra mundial, de 1914-18. Esse cataclismo, no qual milhões de homens
morreram e enormes massas de forças produtivas foram destruídas, foi a manifestação clara de que o
capitalismo tinha começado a frear o desenvolvimento das forças produtivas.
O aparecimento dos monopólios já tinha demonstrado, de forma totalmente deformada que a propriedade
privada capitalista não funcionava mais.
As forças produtivas não podiam continuar crescendo com o caos que provocavam centenas ou milhares
de burgueses competindo entre si num mesmo ramo de produção. Para avançar era necessário introduzir
alguma planificação, pelo menos por ramo de produção. A exportação de capitais, por suave; demonstrava
que as fronteiras nacionais também asfixiavam as forças produtivas, que não podiam avançar mais
limitadas à sua nação de origem e necessitavam desenvolver-se tomando todo o planeta.
A guerra de 1914-18 foi uma guerra de rapina entre os monopólios imperialistas para controlar o mercado
mundial. Foi a demonstração mais clara de que a humanidade não podia avançar mais, não podia mais
desenvolver suas forças produtivas se não rompesse a camisa de força da propriedade privada e as
fronteiras nacionais e instaurasse uma economia mundial planificada. Porém a burguesia não podia fazer
isso porque significaria destruir-se a si mesma, terminando como que a caracteriza como classe social: ser
proprietária dos bens de produção e basear-se na exist6ncia de nações com fronteiras e estados bens
definidos.
Esta época é a da revolução operária e socialista, porque a guerra (que se converterá num fenômeno
permanente) e a miséria das massas (provocada pelo freio ao desenvolvimento das forças produtivas)
fazem entrar em ação revolucionária a nova classe progressiva, a classe operária, que faz uma primeira
revolução na Rússia cm 1917 Põe-se cm ação a classe social que pode cumprir com as grandes tarefas
imprescindíveis para que as forças produtivas continuem avançando: terminar com a propriedade privada
e as fronteiras nacionais para poder instaurar uma economia mundial planificada. Isto é assim porque a
classe operária é internacional, é igual de um país a outro, e porque não pode transformar-se em uma nova
classe proprietária que explore outras, por uma razão: junto com os demais setores explorados é a ampla
maioria da sociedade.
Em ambos os aspectos é totalmente diferente das classes anteriores que cumpriram um papel
revolucionário em sua época. A burguesia, por exemplo, era uma classe proprietária e exploradora desde
que nasceu. A revolução operária e socialista é, pela primeira vez na história, a revolução da maioria da
população, dirigida por uma classe internacional, contra a exploração capitalista e contra toda exploração.
Precisamente por uso pode conquistar a economia planificada mundial.
A partir da revolução russa de 1917 e até o presente estamos, pois, na época da revolução socialista,
operária e internacional contra o sistema social e o estado capitalista.

AS REVOLUÇÕES DO SÉCULO XX

As Épocas e Etapas da Luta de Classes
Quando se produzem as revoluções sociais? Por que ocorrem essas mudanças bruscas, abruptas e
violentas, geralmente sangrentas, nas classes sociais e no estado?
Como vimos, a lei fundamental que move a espécie humana é o desenvolvimento das forças produtivas,
isto é, o avanço da capacidade humana de explorar, cada vez mais e melhor, a natureza, através das
ferramentas e da tecnologia, melhorando continuamente as condições de vida da humanidade. Nesse
avanço vão acontecendo revoluções, com a descoberta ou invenção de novas ferramentas e técnicas, que
permitem explorar mais facilmente as matérias primas oferecidas pela natureza e, inclusive, permitem que
certos recursos naturais que não eram usados como matéria-prima para a produção, passem a sê-lo (por
exemplo o urânio, que antes das descobertas da física e da tecnologia nuclear não servia para produzir
nada).
Esse desenvolvimento das forças produtivas, quando chega a um determinado ponto, choca-se com a
estrutura social existente, ou seja, com as classes em que a sociedade está dividida nesse momento e com
as relações entre elas. Choca-se também com a superestrutura dessa sociedade, com o estado que se
encarrega de manter igual à estrutura de classes, mantendo o domínio e a opressão da classe exploradora
sobre a classe exploradora. Um bom exemplo disso é o desenvolvimento da produção capitalista nas
cidades independentes na sociedade feudal. Enquanto a produção permanece limitada, a estrutura social
feudal não impede que as relações de produção capitalistas se desenvolvam. Mas quando se desenvolve a
manufatura, que já é capaz de produzir numa escala relativamente ampla, a estrutura feudal torna-se um
entrave para a produção continuar se desenvolvendo. Uma força produtiva - a manufatura - capaz de
produzir muito mais que a oficina artesanal, precisa de um mercado amplo para vender essa produção.
Mas a estrutura dos feudos - pequenas unidades que consomem pouco e onde o senhor feudal estabelece
uma alfândega e cobra impostos de quem vier vender em seu feudo - choca-se violentamente com essa
força produtiva. Por isso, a unidade nacional, isto 6, construir uma nação sem alfândegas internas, um
grande mercado livre de entraves - será um dos grandes objetivos do capitalismo.
Para conseguir isso, precisa destruir a classe feudal. E para isso precisa destruir o catado feudal e,
fundamentalmente, os exércitos feudais que defendem, com armas, essa classe.
Também precisa destruir a velha classe oprimida, os servos. A produção capitalista precisa de
trabalhadores livres, que produzem em troca de um salário e se desloquem para onde os capitalistas
precisem. Se hoje eles ganham muito dinheiro fabricando chapéus, precisam de operários para fazer
chapéus, mas se amanhã ganharem mais dinheiro produzindo canos, precisam que os operários se
desloquem para a fábrica de carros. Um servo, atado à terra, que não pode sair dela, não serve para essa
produção e, também, não serve como consumidor, ou seja, para ampliar qualitativamente o mercado. Por
isso, outro grande objetivo da burguesia foi abolir a servidão. Mas, para isso, precisam liquidar os
senhores feudais e o estado que os defendia.
Assim, para poder avançar na produção capitalista, que era um enorme salto revolucionário no
desenvolvimento das forças produtivas, em comparação à produção feudal, a nova classe progressiva, a
burguesia, precisava destruir as classes e as relações fundamentais da sociedade, e impor como base da
sociedade as novas classes com suas novas relações: a burguesia e o proletariado. Se não tivessem
conseguido tal coisa, as forças produtivas da humanidade teriam parado, estancado, porque nunca se
chegaria à grande indústria se não houvesse um grande mercado nacional e uma enorme massa de
trabalhadores livres para servir como mão-de-obra.
Quando se produz esse choque entre o desenvolvimento das forças produtivas e a velha estrutura social,
abre-se para a humanidade uma época revolucionária. É uma época de grandes convulsões, na qual as
novas classes progressistas lutam contra a velha classe exploradora que já não serve para nada e que freia
todo o desenvolvimento. (Na história nem sempre ocorrem essas épocas revolucionárias. Houve
sociedades, como o mundo antigo ou escravista, que frearam o desenvolvimento das forças produtivas
mas não foram revolucionadas por classes mais avançadas. Nesses casos, o velho sistema decai, degenera,
e toda a sociedade retrocede.)
Entre grandes épocas revolucionárias há épocas que não são revolucionárias. Enquanto a estrutura de
classes e sua superestrutura estatal permitem o desenvolvimento das forças produtivas - mesmo havendo
contradições - a sociedade vive uma época não revolucionária, de equilíbrio reformista.
Sob o sistema capitalista, por exemplo, deram-se grandes saltos ou revoluções nas forças produtivas.
Passou-se, por exemplo, da energia hidráulica para mover as máquinas, ou do vento para mover as
embarcações, ou dos cavalos para mover os carros, ao vapor, à energia elétrica, aos motores a explosão.
Mas esses avanços nas forças produtivas não se chocavam com a estrutura social e o estado capitalista.
Pelo contrário, o capitalismo os incorporava instantaneamente e os levava asca máximo desenvolvimento
e aplicação. Era uma época de auge da sociedade capitalista, de harmonia entre o desenvolvimento das
forças produtivas e a estrutura social e seu estado.
Quando se entra numa época revolucionária, em geral, a solução da contradição começa pela
superestrutura, pelo estado. A nova classe progressiva luta para destruir o aparato de poder e de governo
da velha classe que já é regressiva. Se não lhe tomar o poder não pode mudar totalmente a estrutura social
anterior. Se a burguesia não destruísse, primeiro, os exércitos feudais e todo o aparato feudal, não podia
impor a unidade (o mercado) nacional, nem libertar os servos para se tornarem operários.
Só depois de destruir ø estado feudal,tomar o poder e construir seu próprio estado, com seu próprio
exército, suas próprias instituições de governo e suas próprias reis, 6 que a burguesia pôde libertar os
servos, abolir as alfândegas internas, eliminar a forma feudal de propriedade da terra e transformá-la em
capitalista, etc. Ou seja, só depois de conquistar a superestrutura, o estado, é que a burguesia pôde levar
até o fim o seu objetivo de transformar toda a sociedade numa sociedade capitalista